Googleiem no Houaiss, abram Aurélios e Aureliões, Caldasauletizem-se. Nada.
Engenhando-me na busca, só dei com googlar na Wikipédia, dicionário eletrônico aberto a todos, e que muitos criticam pela prática excessiva de democracia, uma vez que presta-se à edição feita pelo consulente.
Lá está: “o verbo googlar (ou “guglar”) é um neologismo que significa executar uma pesquisa na Internet pelo motor de busca Google. (…) A Sociedade Americana de Dialetos escolheu o verbo to google como “a mais útil palavra de 2002”.”
E a Wikipédia (que, aliás, prefere “motor” a “engenho”, para meu desgosto) acrescenta que o Google não incentiva o uso de qualquer palavra relacionada à sua marca registrada, já que teme um possível desgaste, conforme aconteceu com ioiô, xerox e gilete.
Tão vendo por que falam mal da Wikipédia? Meu ioiô, meu xerox e minhas giletes continuam novinhos em folha. O que se desgastou mesmo foi minha Olivetti Littera 53.
Googlar, ou guglar (prefiro com dois Os. A segunda forma parece, como diria o Houaiss eletrônico, a voz do peru), googlar, dizia eu, é, pois, ainda, um neologismo. Questão de tempo virar apenas logismo. E não adianta pesquisar “logismo” porque não tem. Acabei de cunhar.
O mundo a googlar
Motor ou engenho, o Google é pesquisado “n” bilhões de vezes por dia em todo o mundo, segundo dados fornecidos pela publicação online Google Trends, que merece uma chegadinha lá, para quem não tem muito o que fazer na vida, como todo internauta.
As “tendências” googlianas especificam o que está sendo googlado e em que parte do mundo.
Os resultados são divertidos e esperados: dizem tudo e não dizem nada sobre este e aquele outro país, o que é, admitamos, a cara de 99% de toda e qualquer computação.
Senão, vejamos, sempre segundo Google Trends:
No Brasil, os UFOs, ou objetos voadores não identificados (OVNIs) chegam em primeiro lugar, desmentindo assim o que escrevi outro dia mesmo dizendo que ninguém mais ligava para discos voadores e que tais. (Atenção: googlar “que tais”.)
Em segundo lugar, Einstein, que, na disputa de bola googliana, acabou levando vantagem no corpo a corpo com Pelé, que pegou apenas um honroso terceiro lugar.
Em quarto lugar, playboy, o que me parece muito estranho, a não ser que seja a revista ou gíria nova para alguém ou alguma prática horrenda, e não “mauricinho”. Depois eu googlo e confiro.
Finalmente, em quinto lugar, samba, o que me anima um pouco e, como Waldir Calmon, no Arpège, me convida a dançar, pois, a frio e a seco, eu jurava que ia dar funk ou rap. Só por causa disso, vou googlar, ainda hoje, a palavra “samba” umas dez vezes, para fazer média ponderada.
Mundial de buscas
O resto do mundo continua buscando esquisitices que nada revelam sobre este ou aquele outro país, a não ser para quem tem muita, ou nenhuma, imaginação.
Os irlandeses querem saber de solidão e irrigação do cólon. Os americanos têm mais interesse em cheeseburger e “brinquedos sexuais” do que em Osama bin Laden.
Aqui na Grã-Bretanha, leva para a casa a coroa uma moça (vestida, frise-se) chamada Chantelle, que saiu vencedora no último Big Brother. Depois, o danado do iPod, que não perde por esperar o dia de ser lexicografado.
Os argentinos, quem diria, preferem Robbie Williams (conhecem?) e não mais Gardel.
A África do Sul vai de “bestialismo” (epa!), o Peru de Pamela Anderson (ainda?) e a Itália, como o samba, confirmando a tradição, prefere “pasta”, no que faz muitíssimo bem, non é vero?
Índia? Primeira coisa que os indianos googlam é piada, já que são todos uns tremendos gozadores. As Filipinas acompanham a moda: preferem o execrável (seja livro ou filme) “Código da Vinci”.
Uma perguntinha: eu, você e o mundo inteiro sabemos que o mais se quer saber e ver é – bidu! – “safadeza”. Pra mim, Google, e suas tendências, estão é tapando o sol com a peneira.
Agora só nos resta googlar “bidu” e a expressão “tapar o sol com a peneira”.
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